Amar não é um ato ou um sentimento instintivo. Sentimentos não são naturais, mas configurados culturalmente em certo momento histórico e em certa sociedade e, o amor não foge a essa regra!

Cada cultura reserva um lugar para o amor. Parte do que chamamos de amor em nossa sociedade remonta ao século XII (isso mesmo!), esse amor idealizado, adorado, nobre e disponível apenas a alguns.

No século XIII a monogamia é instituída e a instituição casamento passa a ser controlada pela Igreja e pelo Estado. Com a chegada dos colonizadores no Brasil, houve um aumento do moralismo e o casamento heterossexual e monogâmico passa a ser o único lugar considerado legítimo do amor. A felicidade conjugal passa a ser tarefa da mulher! (aquelas consideradas “dignas” de casar, as mulheres brancas, enquanto as mulheres negras e indígenas são vistas apenas como força de trabalho ou como objetos sexuais para satisfazer os homens brancos).

As mulheres passam a ser subjetivadas a partir do dispositivo amoroso e materno e isso impacta diretamente na maneira como nós mulheres nos relacionamos. Muitas vezes as mulheres entendem que seu valor está ligado a ter um relacionamento amoroso – ser escolhida por alguém! Isto é, sua autoestima é terceirizada ao outro!

Esse amor romântico cria a expectativa de que pode salvar as pessoas de suas condições, de seus problemas e infelicidades!

Esse discurso muitas vezes abre margens para relações não saudáveis e abusivas. “Não vou terminar porque o/a/e amo!” pode ser um combustível para continuar perdoando e insistindo naquela relação a qualquer preço e, as vezes esse preço é bem alto!

Há um mito de que se existe amor, deve-se ficar! De que o amor é incondicional e que não importa o que aconteça, o amor vence! Esse mito favorece que muitas relações abusivas, violentas, não saudáveis se prolongue, colocando a saúde mental e a integridade físicas das pessoas (principalmente das mulheres) em risco!

Além disso, o término de uma relação amorosa não precisa significar o rompimento de um vínculo, esse pode ser transformado! Não coincidências de quereres não precisa significar necessariamente desamor! Embora às vezes o afastamento e o rompimento é o caminho mais saudável!

É preciso entender que nossas expectativas em relação aos relacionamentos afetivo-sexuais são construídas a partir de um referencial cultural.

É preciso reconhecer o que está em jogo nas relações amorosas, questionar a maneira como somos ensinadas a amar e se relacionar! É preciso criar novas formas de amar! Não é fácil, mas é o melhor que podemos fazer por nós!

O amor romântico não vai te salvar e nem salvar o outro!

É preciso descolonizar o amor!

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